Poucos signos são tão diretamente e literalmente relacionados aos próprios símbolos quanto Câncer; um caranguejo, por exemplo, é capaz de andar ou correr de lado. E da mesma forma nossos queridos caranguejinhos podem às vezes se "mover" sobre vida, de uma maneira indireta, como para evitar o contato desagradável com sua superfície áspera. Seu corpo é revestido por uma carapaça, e é para ela que tantas vezes se voltam - servindo como um lugar confortável ou simplesmente uma zona de conforto onde podem resistir as mudanças da vida, os ambientes "hostis". Às vezes fazendo disso um escudo e por hábito acabando desnecessariamente em posição defensiva. Suas motivações de auto proteção e segurança são tantas que acabam por criar dentro de si uma vida riquíssima e complexa, dificultando mais ainda uma interação que necessita ser feita sem barreiras afetivas.
Excluindo a possibilidade de uma forte influência mercuriana, um signo regido pela Lua é inevitavelmente um signo cuja vida gira em torno de questões sentimentais. E por ser também um signo cardinal, essas questões podem se tornar ainda mais confusas e intensas, uma vez que estamos tentando resguardar e impedir o movimento fluído de um coração que está mais para um mar ora calmo, ora tempestuoso que um córrego transparente e calmo. Não dá. É impedir o seu próprio movimento natural.
É muito natural que um signo tão maternal, tão ligado as suas raízes emocionais tente recriar esse ambiente ao longo da vida. O maior engano é supor que num infinito de variações astrológicas, o único referencial familiar para Câncer é sua família de sangue. É certamente um signo sobre família, mas de sangue? Nem tanto. Câncer irá ancorar e ter como porto seguro e referencial de valores o que quer que considere família. Isso vai do seu ambiente de trabalho (Câncer na casa 10) a amigos que encontra por aí no mundo (Câncer na casa 11). Câncer é sim um signo extremamente familiar e uma eventual falta de estrutura o fará instintivamente procurar esse núcleo - o que pode ser uma experiência ruim, onde não conseguem se desligar 100% de sua família desfuncional e repetem o mesmo padrão de relacionamentos - como pode ser uma experiência maravilhosa, fazendo-o sair de sua casca e embarcar numa busca extremamente profunda de uma experiência e conexão genuinamente tribal. Em sua forma mais perfeita e elevada é exatamente isso que consegue fazer acontecer: um amor livre de condições, projeções e necessidade excessiva de segurança e totalmente incondicional. Mas em essência o amor sempre vai ser o seu porto seguro e o próprio amor se torna sua própria casa. Não é a toa que a frase "She was the foundation of my house." é um exemplo perfeito de amor canceriano, dito pelo não menos Vênus em Câncer, Carl Jung.
A urgência de fazer novamente o movimento de volta ao útero e voltar para a casca é grande, mas é justamente quando aceitam quem são e como são que conseguem ser felizes. Quando aprendem a amar o mar em todas as fases da maré e não tentam transformá-lo em córrego - permitindo uma interação nua, onde o próprio sentimento transcende a barreira material de conforto e se torna a própria rede substancial de segurança.