Ou: Culpabilização da vítima de estupro
Ela tinha 16 anos quando descobriu que era uma garota má.
Estava na casa de umas das conselheiras da igreja.
Naquela manhã ela havia preferido ficar na cama quentinha
á enfrentar o frio e ir para o culto devocional.
Garotas más sempre escolhem o conforto.
Ela pegou um caderno que estava no quarto de sua amiga,
foi para sala e ficou escrevendo. Ela amava escrever.
Até que alguém desejou escrever aquela história junto com ela.
O bom homem que morava na casa e era casado com a conselheira.
Garotas más não gostam de ficar sozinhas.
Joana foi uma garota muito má quando o homem bonzinho decidiu
colocar um filme para ela assistir enquanto estuprava seu corpo
com o genital, as mãos e a língua.
Garotas más adoram sentir corpos estranhas invadindo seus corpos.
Maldade mesmo foi quando ela contou tudo que aconteceu para seus pais,
para a conselheira e para as autoridades.
Para se sentir segura e isso não acontecer mais.
Garotas más mentem para ferir homens bons.
Você é uma garota má?
Foi estuprada e acha que a culpa foi sua?
Vamos falar sobre isso!
Foi em um local que você não deveria ter ido?
Foi com o homem mais honesto, carinhoso, mais querido por todos?
Você mudou de ideia em algum momento?
Seu corpo reagiu ao estímulo sexual que foi provocado em seu corpo?
Não conseguiu reagir? Nem gritar ou fugir? Tomou banho depois? Não denunciou?
Não chorou? Você mentiu? Você guardou a verdade por muito tempo?
O crime prescreveu e não denunciou?
Você teve qualquer atitude, pensamento, medo ou
qualquer outra manifestação que fez você se sentir culpada?
Receba um afetuoso abraço e leia atentamente ao que vou escrever.
A CULPA NÃO FOI E NUNCA SERÁ TUA!
A culpa e responsabilidade pelo crime de estupro é sempre e
sempre vai ser de quem comete tal ato.
Independente do que o meio externo te diga,
a culpa nunca vai ser sua. Seja por vergonha,
nojo, medo, por qualquer tipo de reação ou falta dela.
Não se sinta responsável pela dor causada á ti.
Não se machuque por uma agressão sofrida.
Sua dor é sua (é nossa, é das mulheres a sua volta)
mas a culpa não.
Se você que está lendo não passou por uma situação de abuso
e violência sexual, mas, é mulher e tem o desejo
de ajudar outras mulheres nessa situação,
deixamos agora algumas orientações:
Primeiro, vamos definir estupro:
O estupro existe quando há relação sexual sem o consentimento
de uma das partes.
Não importa se vocês já fizeram sexo antes,
se dessa vez você não quis e foi forçada, foi estupro.
Se você permitiu e desejou o começo da relação,
mas, por algum motivo você desejou parar, foi estupro.
Se você estava bêbada, drogada, inconsciente, adormecida
e foi forçada ao sexo, foi estupro.
Se você não reagiu, não gritou,
se seu corpo reagiu ao estímulo sexual,
foi estupro.
Em nenhum desses casos ou outros que você possa ter vivenciado
ou tido conhecimento, a vítima é culpada. EM NENHUM CASO.
Converse com mulheres. Troque ideias com feministas,
mulheres mais velhas, mulheres de outras classes sociais,
cor, religiosidade e posição política.
Todas são oprimidas pelo machismo, todas tem sua vivência,
todas podem ter sofrido abuso.
Não esqueça das mulheres da sua família:
elas podem reproduzir o discurso culpabilizador,
mas você pode mudar isso com paciência e diálogo.
Tente não ficar quieta ao escutar alguém falando
que a culpa é da vítima.
Em conversas ou debates, exponha sua opinião e argumente
(sem citar nomes de vítimas conhecidas pelas pessoas da conversa).
Para cada um dos tópicos citados acima,
há uma resposta coerente que mostrará
que a sobrevivente nunca terá culpa.
Se você conhece alguém que sofreu abuso, faça com que ela
se sinta confortável para conversar contigo mas não pressione;
deixe claro que a culpa não é dela e que você está disposta
à acompanhá-la à um posto de saúde e à delegacia.
Se uma vítima a procurar, tenha tato e ajude-a,
mas não a force a fazer nada.
É a sobrevivente que decide o que fará e cabe a você
apoiar e mostrar que se importa e está presente.
Aí entra a tal sororidade, que nada mais é do que sentir a
dor da mulher á sua volta e tratá-la da melhor forma possível.
Se você foi abusada, procure alguma mulher de confiança e
peça ajuda.
Em postos de saúde do SUS, a àrea de acolhimento normalmente é
composta só por mulheres.
Sinta-se livre para conversar com elas a qualquer momento.
Como profissionais da saúde, elas saberão lidar
com o seu trauma com discrição.
Em delegacias da mulher, há sempre estudantes de
psicologia dispostas a ouvir e
iniciar tratamento com as mulheres que precisarem.
Não tenha medo de terminar amizades com pessoas que te
culpam pelo abuso sofrido, ou que culpam qualquer vítima.
Relacionamentos devem existir para o nosso bem e melhoramento
Como pessoa, se não está funcionando assim,
diga tchau e siga sua vida com pessoas que
tem empatia e se põe no lugar do outro.
Repasse esse texto e ajude a acolher mulheres que se sentem
culpadas pelas agressões sofridas.
Repasse essa informação palavras que tragam paz e orientação
sobre onde buscar ajuda profissional.
Mas, acima de tudo, repasse amor.
Mell Pimentão e Yasmin Antoniazzi