Ontem foi dia 8 de março, dia internacional da mulher. Foi dia da Dilma fazer pronunciamento em rede nacional. Em alguns lugares, principalmente da região sudeste do Brasil, também foi dia de “panelaço” durante o discurso dela.

Sei que estou um pouco atrasada neste texto e que vou chover no molhado de alguns (muitos) outros, mas não podia deixar de falar sobre isso.

Esse tal panelaço consistiu em bater panelas (dã) e gritar xingamentos direcionados à presidenta durante os 15 minutos em que ela falou. Não discutindo a validade desse ato ou se eu concordo com ele ou não (mas spoiler: não concordo), queria falar um pouco da escolha de palavras que esses manifestantes fizeram. “Abaixo a Dilma vagabunda”, “piranha”, “tem que sair essa vaca”, “ei, Dilma, vai tomar no cu”, foram apenas algumas das expressões que eu ouvi, perplexa, da minha casa. Lembrando, isso se referindo a uma senhora de 67 anos que já é avó. Poucas vezes na vida senti tanta vergonha por ter nascido em São Paulo.

Isso se repetiu em diversos bairros de classe média, majoritariamente, e mostrou o que é a classe média brasileira. Uma classe que defende a moral e os bons costumes, mas que não se incomoda em xingar uma senhora da sacada da sua casa. Que posta textos exaltando as mulheres “que se dão ao respeito”, mas que usam palavras extremamente misóginas para atacar outra.


Mas por que misoginia?

Ah, mas pode fazer isso, né? É a Dilma! 
Em primeiro lugar, precisamos lembrar que a Dilma não governa sozinha o país e que muito do que está acontecendo hoje (alta do dólar e inflação, por exemplo) está inserido num contexto político e econômico que envolve muitas variantes, como a especulação do mercado, investimentos, bolsa e etc. 

Mas ok, imaginando que tudo fosse culpa da Dilma mesmo. Ainda assim, nenhuma dessas expressões que escrevi acima deveriam ter sido usadas. Oras, desde quando a vida sexual dela, ou com quem ela transa ou deixa de transar tem alguma coisa a ver com seu trabalho? Não podemos medir o valor de uma mulher pela quantidade de parceiros sexuais que ela teve, e muito menos achar que transar muito ou pouco é motivo para ofender uma mulher. Por isso, usar palavras como “vadia” ou qualquer outra que faça referência à sua sexualidade é, além de altamente ignorante, extremamente misógino.

[Sigo a mesma lógica para explicar expressões como “velha safada”, que também tive o desprazer de ouvir. A aparência dela nada tem a ver o cargo que ocupa e não mede seu valor enquanto mulher nem presidenta.]


Ah, mas se isso não é motivo para ofender, na verdade não falamos nada demais, ué, Não é ofensa.
Claro que é. Quem bateu panela aqui na rua em que eu moro não estava chamando a Dilma de piranha porque acha que isso não ofende. No contexto de uma manifestação feita CONTRA a presidenta, é obvio que as palavras escolhidas foram para afetar sua imagem. Por isso, não cola essa desculpa (que eu li na internet, inclusive), de que quem ficou ofendido é que está dizendo que ser vadia é algo errado, uma vez que essas palavras foram ditas para ofender.

Quem ouviu ou tomou conhecimento desses atos, poderia até imaginar que a Dilma estivesse falando de algo extremamente polêmico e radical em seu pronunciamento. Muito pelo contrário, ela apenas estava usando a data para anunciar a criminalização do femicídio no país. Infelizmente, o que muitos ouviram ao fundo deste anúncio foi uma classe média raivosa batendo panelas, tocando vuvuzelas e xingando uma mulher de “filha da puta”, “vaca”, “mal comida” de suas janelas. Realmente, um retrato bastante fiel da nossa sociedade.


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Dilma, ao longo de seus mandatos, já teve que aturar muitos discursos machistas – por exemplo, as perguntas insistentes que fazem sobre seu peso ou seus namorados, como se isso fizesse alguma diferença em sua atuação como governante do país – e, com certeza, já passou por coisa pior do que pessoas inconformadas batendo panelas contra algo (não muito claro) que ela fez ou deixou de fazer.

Vale lembrar que já tivemos um episódio parecido a esse, na abertura da Copa do Mundo. Dilma inclusive falou sobre isso na época. Curiosamente, os xingamentos escolhidos foram muito parecidos com os usados ontem. Vale também ressaltar que, daquela vez, o tiro saiu pela culatra e ela acabou angariando mais defensores que agressores. Resta saber se agora a reação será parecida, ou se a banalização de tais expressões já nos fará não nos importarmos mais com essas escolhas de palavras que deixam tão claras o machismo que vivemos no Brasil.


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Olar, gente, vou fazer um post pra me apresentar, é que surgiu esse assunto e eu me senti na obrigação de falar sobre isso. 
Mas prazer, sou a Fernanda, estou no último ano de jornalismo e vou escrever (também) sobre política aqui :)


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